No passado dia 2 de Junho deste ano, foi publicado no site francês FranceSoir um artigo bastante extenso, da autoria de Laure Gonlézamar, no que respeita a vacinação de jovens contra a Covid-19. Devido à sua extensão e referenciação a estudos/relatórios bastante pormenorizada, esta será apenas a primeira parte de uma tradução livre do artigo original em questão.
“Em 25 de Maio último, a Academia Nacional de Medicina Francesa manifestou a intenção de estender a vacinação contra a Covid-19 às crianças e adolescentes. Esse desejo baseia-se num conceito de imunidade de grupo, no mínimo, peculiar, segundo o qual seria necessário vacinar 90% da população adulta – ou, em alternativa, 80% da população total, incluindo crianças – para que a referida imunidade de grupo fosse alcançada, quando, até Março de 2020, para as epidemias de infecções respiratórias virais, era ponto assente que 30 a 40% da população imunizada bastaria.
As crianças são o nosso futuro e temos o dever de as proteger,
Deveremos, nós, deixar que as vacinem?
É impossível responder a essa questão de saúde pública sem separarmos, primeiro, a parte emocional da parte racional.
Quer sejamos pais, avós, padrinhos, irmãos ou tios, certamente que desejamos o bem-estar, a saúde e a felicidade das nossas crianças.
Reservemos, pois, alguns minutos para investigar um assunto tão importante, analisando os dados oficiais disponíveis.
Para começar, vejamos se as crianças podem contrair Covid-19?
A resposta é clara: sim, as crianças podem ser infectadas e ser portadoras do Sars Cov-2. Os números disponíveis no site Public Health France e, mais amplamente, os que são publicados internacionalmente, indicam que as crianças de todas as idades podem ter um teste positivo para Covid-19, independentemente da sua idade e origem étnica.
No entanto, os dados também mostram que as crianças são geralmente pouco afectadas por esta doença. Um relatório publicado em Agosto de 2020 pela Agência Europeia de Controle de Doenças[1] indica que menos de 5% dos casos da Covid-19 relatados na União Europeia ocorreram em menores de 18 anos.
E, quais são os sintomas desta doença nos jovens?
De acordo com o estudo Ped-Covid[2] coordenado pelo hospital Necker e o Institut Pasteur, de 775 crianças dos 0 aos 18 anos, que testaram positivo em sete hospitais de Paris e arredores, entre 1 de Março e 1de Junho de 2020, 69,4% delas, não apresentaram sintomas. Além disso, de acordo com um artigo[3] de Bruno Hoen, director de pesquisa médica do Institut Pasteur, “os sinais muito característicos de perda do paladar e do olfacto nunca foram observados em menores de 15 anos”. Quando a infecção se manifesta por sinais clínicos, na maioria das vezes é “por uma síndrome semelhante à gripe banal”, explica a pediatra Fabienne Kochert. Os sintomas observados são: febre, tosse, irritação e também problemas digestivos (vómitos e diarreia).
Precisam, os jovens infectados, de ser hospitalizadas?
Embora constituam 17,75% da população francesa, os menores de 15 anos não representam sequer 1% dos pacientes hospitalizados e das mortes por Covid. As formas graves são excepcionais nos jovens, o que explica a escassez de pacientes desse grupo etário nos hospitais. Raríssimos casos do sindroma de Kawasaki[4] foram descobertos no início da pandemia (como acontece em todas as infecções respiratórias virais) com as primeiras cepas do vírus , tendo essas ocorrências diminuído com a chegada das variantes, que geralmente são mais contagiosas, mas menos agressivas que o vírus original.
Morrem, os jovens, de Covid?
Desde 1 de Março de 2020, foram registradas seis mortes de crianças dos 0 aos 14 anos, hospitalizadas com Covid-19, em França. Em geral, essas crianças tinham problemas de saúde prévios e apresentavam uma ou mais comorbilidades. Por exemplo, uma delas, com 9 anos[5] morreu de deficiência neurológica ligada a paragem cardíaca, mas foi contabilizada como morte de Covid, porque o teste sorológico indicou que tinha estado em contacto com o coronavírus, embora não apresentasse qualquer sintoma.
Um estudo europeu publicado na revista especializada The Lancet Child & Adolescent Health, envolvendo 582 pacientes positivos para o teste de PCR em 82 estabelecimentos de saúde, mostrou que apenas quatro crianças morreram, duas das quais tinham comorbilidades pré-existentes[6].
Podem, as crianças transmitir a Covid-19?
Vejamos o que dizem os estudos. Por exemplo, um realizado pelo Institut Pasteur em escolas do Oise[7], com 510 crianças de seis escolas primárias: os casos declarados nestas escolas antes das férias não deram origem a casos secundários, quer entre outros alunos, quer entre professores . O estudo conclui que os pais são a fonte da infecção e não o contrário. Outros estudos também apontam nessa direcção, como atesta o professor Robert Cohen, pediatra: “as crianças não são supercontaminantes, pelo contrário, são contaminantes minúsculos”.
Por fim, citemos o caso dum menino de 9 anos[8], positivo no teste para Covid, que continuou a viver normalmente (escolas, clube de esqui, com seus pais e seus dois irmãos, etc.) sem contaminar nenhuma das 172 pessoas que estiveram em contacto com ele, incluindo 112 alunos e professores.
Finalmente, de acordo com a Associação Francesa de Pediatria Ambulatória[9], “os factores de divisão de risco” em relação aos adultos são da ordem de 1/10 000 para mortes, 1/1000 para formas graves, 1/100 para hospitalizações e 1/3 sobre a percentagem de PCRs positivos. Isto é particularmente verdade para crianças menores de 10 anos.
Assim, após um ano e meio de pandemia, podemos dizer com segurança que:
1) Sim, as crianças podem apanhar o vírus Sars-Cov-2.
2) Porém, apresentam poucos sintomas.
3) Além disso, raramente precisam de ser hospitalizadas.
4) Os óbitos são extremamente raros e quase sempre acompanhados de comorbilidades graves.
5) As crianças contaminam pouco, inclusivamente as pessoas que lhes são próximas.
O medo que os filhos infectem pais e avós não se baseia, pois, em nenhum argumento estatístico, e mesmo que essa possibilidade não possa ser totalmente descartada, porque há reporte de alguns casos isolados, é notoriamente rara.
Por outras palavras, este coronavírus não é, de todo, uma ameaça mortal para nossos filhos. A utilidade da sua vacinação parece, pois, bastante reduzida, uma vez que, graças ao seu sistema imunológico e à sua fisiologia de seres humanos jovens, as crianças são naturalmente resistentes à Covid-19.
Os cientistas estão actualmente a tentar entender porquê, e por que mecanismos, os jovens não são afectados por esta doença, como os adultos são.”
FIM DA PARTE 1
Para aceder à PARTE 2, entre no link seguinte:
https://www.aliancapelasaudeportugal.com/2021/06/10/devem-os-jovens-ser-vacinados-contra-a-covid-19-parte-2/
Para aceder à PARTE 3, entre no link seguinte:
https://www.aliancapelasaudeportugal.com/2021/06/11/devem-os-jovens-ser-vacinados-contra-a-covid-19-parte-3/
Fontes:
[1] https://www.ecdc.europa.eu/en/publications-data/children-and-school-settings-covid-19-transmission
[2] https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.29.20142596v1
[3] https://sante.journaldesfemmes.fr/fiches-maladies/2623333-coronavirus-enfant-covid-bebe-adolescent-symptomes-cas-positif-contact-test-salivaire-chiffre-vaccin/
[4] https://www.pasteur.fr/fr/journal-recherche/actualites/covid-19-etude-enfants-souffrant-syndrome-hyper-inflammatoire-apparente-maladie-kawasaki
[5] https://www.leparisien.fr/societe/coronavirus-lien-etabli-entre-le-covid-19-et-la-maladie-de-kawasaki-125-cas-recenses-en-france-15-05-2020-8317671.php
[6] https://www.ouest-france.fr/sante/virus/coronavirus/covid-19-les-deces-d-enfants-tres-rares-selon-une-etude-europeenne-6883273
[7] https://www.lexpress.fr/actualite/societe/sante/les-enfants-transmettraient-peu-le-coronavirus-apres-etude-d-un-cluster-en-haute-savoie_2124179.html
[8] https://www.leparisien.fr/societe/coronavirus-lien-etabli-entre-le-covid-19-et-la-maladie-de-kawasaki-125-cas-recenses-en-france-15-05-2020-8317671.php
[9] https://afpa.org/11-mai-retour-progressif-collectivites/
Artigo Original:
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Excelente!